Eu lhe falo de novo de minha admiração pela frase de Shakyamuni: “Não espere nada de ninguém além de si mesmo”.
Reencontro um sentimento que me impressionou muito, há uns 15 anos, quando estudava uma peça que se chamava La conférence des oiseaux, inspirada em um poema persa de Fraid-oddin Attar e dirigida por Peter Brook. Cansados de sua existência medíocre e inútil, alguns pássaros se lançam à procura de seu rei mítico, chamado Simorgh.
A maioria deles, cansados, decepcionados ou seduzidos pelas surpresas da viagem e dos ídolos que encontram, pára no caminho. Um pequeno grupo de pássaros persistentes, conduzidos pela poupa, atravessa os desertos e os sete vales de maravilhas e de horrores. Esgotados, com as asas queimadas, eles conseguem chegar finalmente à presença do pássaro-rei. Cem cortinas se abrem, brilha uma luz intensa, mas eles vêem apenas um espelho. Uma voz lhes diz que esse espelho é a única verdade. Esse Simorgh que procuraram são eles mesmos. Não se deve esperar mais nada. A voz acrescenta uma frase magnífica, que ecoará durante muito tempo na poesia persa: “Fizeram uma longa viagem para chegar até o viajante”.
Algumas vezes, penso que o príncipe Siddharta, ao longo de seus seis anos de busca fervorosa e de extrema privação, tenha feito a mesma viagem e recebido a mesma revelação de uma voz vinda de dentro dele mesmo. Revelação muito difícil de aceitar, destinada a um pequeno número de indivíduos, difícil de compreender, de admitir (Buda não parou de repeti-lo), mas impossível de negar ou de transformar, a menos que se traia a si mesmo.- Talvez haja um deus - ele me diz sorrindo -, mas não se deve esperar nada dele.
Fonte:
Trecho extraído do livro:
Sua Santidade, O Dalai-Lama e Jean-Claude Carrière - A Força do BudismoPáginas 95 e 96
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